sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Questões Acerca do Hábito de Comer Carne



DEVERÍAMOS PARAR DE COMER CARNE ?
Câncer, doenças cardíacas, crueldade com os animais, matança de semelhantes, desastre ecológico... Afinal, será que você deveria virar um vegetariano ?
Comer não é só uma questão de matar a fome. A decisão sobre que comida colocar no prato tem implicações econômicas, ambientais, éticas, culturais, fisiológicas, filosóficas, históricas e religiosas. Esta pesquisa não ensina você a comer. Felizmente, essa ainda é uma decisão pessoal, que depende apenas do seu julgamento sobre o que é certo e o que é errado. Se você, depois de terminá-la, vai devorar uns brócolis ou um cheeseburger, já não é assunto nosso. Só esperamos que, terminado o texto, ao decidir o que comer você saiba o que está fazendo e o que isso implica.
O QUE É CARNE ?
A faca desce macia, cortando sem esforço o pedaço de picanha. Dourada e crocante nas bordas, tenra e úmida no centro. Você põe a carne na boca e mastiga devagar, sentindo o tempero, a maciez, a temperatura. O sumo que escorre dela enche a boca e, com ele, o sabor incomparável. Carne é bom. Mas que tal assistir à mesma cena sob outra perspectiva ? No prato jaz um pedaço de músculo, amputado da região pélvica de um animal bem maior que você. Com a faca, você serra os feixes musculares. A seguir, coloca o tecido morto na boca e começa a dilacerá-lo com os dentes. As fibras musculares, células compridas - de até 4 centímetros - e resistentes, são picadas em pedaços. Na sua boca, a água (que ocupa até 75% da célula) se espalha, carregando organelas celulares e todas as vitaminas, os minerais e a abundante gordura que tornavam o músculo capaz de realizar suas funções, inclusive a de se contrair. Sim, meu caro, por mais que você odeie pensar que a comida no seu prato tenha sido um animal um dia, você está comendo um cadáver. Carne é tecido animal, em geral muscular. As fibras que a compõe são feixes de células musculares, enroladas umas nas outras. Em volta delas há uma cobertura de gordura, cuja função é lubrificar o músculo e permitir que ele relaxe e se contraia suavemente. Ou seja, não há carne sem gordura. A diferença entre carne branca e vermelha é a quantidade de ferro no tecido - o mesmo mineral que dá cor ao sangue.
Há no mundo 1.35 bilhão de bois e vacas. Criamos 930 milhões de porcos, 1,7 bilhão de ovelhas e cabras, 1,4 bilhão de patos, gansos e perus, 170 milhões de búfalos. Some todos ele e temos uma população de animais quase equivalente à humana dedicando sua vida a nos alimentar - involuntariamente, é claro. E isso porque ainda não incluímos na conta a população de frangos e galinhas abastecendo a Terra de ovos e carne branca: 14,85 bilhões. Só no Brasil há 172 milhões de cabeças de gado bovino - uma para cada cabeça humana. Nosso rebanho bovino só é menor que o da Índia, onde é proibido matar vacas. Na média, um brasileiro come perto de 40 quilos de carne bovina por ano - ou seja, uma família de cinco pessoas devora um vaca em 12 meses. Somos o quarto país do mundo onde mais se come carne bovina. Um brasileiro médio come também 32 quilos de frango e 11 quilos de porco todo ano. O rebanho mundial ocupa um quarto do território terrestre. Faz sentido?
CARNE FAZ MAL ?
Quem come mais carne - especialmente carne vermelha - tem índices maiores de câncer e de enfarte, as duas principais causas de morte do planeta. Isto é, mais carne, mais doenças. O raciocínio vale em parte para o câncer também. Os comedores de carne morrem mais de câncer de intestino, boca, faringe, estômago, seio e próstata. Ainda assim, o elo entre carne e câncer é meio frouxo. Agora, de uma coisa ninguém tem dúvidas: vegetais fazem bem. Uma dieta rica em frutas, legumes e verduras claramente reduz as chances de ter câncer no esôfago, na boca, no estômago, no intestino, no reto, no pulmão, na próstata e na laringe, além de afastar os ataques cardíacos. Frutas e legumes amarelos têm caroteno, que previne câncer no estômago; a soja possui isoflavona, que diminui a incidência de câncer de mama e osteoporose; o alho tem alicina, que fortalece o sistema imunológico...
DÁ PARA VIVER SEM CARNE ?
Dá. O vegetarianismo exige cuidados e conhecimentos de nutrição, mas com certeza pode-se ter uma dieta saudável sem carne. Um vegetariano tende a prestar mais atenção no que come e nos efeitos disso sobre seu corpo. Os ovolactovegetarianos não têm problemas com proteínas porque os derivados de animais são tão protéicos quanto a carne. Ovolactovegetarianos não podem basear sua dieta no leite, nos ovos e nos queijos, sob risco de ficarem sem nutrientes valiosos. É preciso comer muitos e variados vegetais, em especial soja, feijão, brócolis, couve, espinafre - todos ricos em ferro. A quantidade é fundamental, porque o ferro dos vegetais é menos absorvido pelo corpo que o de origem animal. Uma boa dica é acompanhar as refeições com suco de laranja, já que a vitamina C ajuda na absorção do ferro. Já para os vegans, a palavrinha mágica é soja. A questão é a seguinte: suprir as necessidades protéicas como carne é fácil, a soja, entre os vegetais, é o que tem as proteínas mais completas. Há outras fontes de proteínas, como o feijão, mas se você não come soja, vai precisar de grandes quantidades e de muita variedade de vegetais para juntar todos os aminoácidos de que precisa. "Desde que sigam essa regra, os vegans tendem a ter uma dieta até mais equilibrada que os ovolactovegetarianos, já que não ocupam lugar no estômago com ovos e leite, que são pobres em vários nutrientes", diz o nutricionista vegan George Guimarães. Uma questão para os vegans é a vitamina B12, que o corpo não produz e não existe em vegetais. Mas suprir as necessidades de B12 é fácil: qualquer biscoito ou cereal com a palavra "fortificado" no rótulo contém a vitamina. Ela também é vendida em cápsulas.
SOMOS VEGETARIANOS POR NATUREZA?
Não, infelizmente. " O homem tem dentes pequenos e sistema digestivo curto, características de onívoros".
O PLANETA PRECISA DE CARNE ?
Não. Na verdade, se todos fossem vegetarianos, é provável que não houvesse tanta fome no mundo. É que os rebanhos consomem boa parte dos recursos da Terra. Uma vaca, num único gole, bebe até 2 litros de água. Num dia, consome até 100 litros. Para produzir 1 quilo de carne, gastam-se 43.000 litros de água. Um quilo de tomates custa ao planeta menos de 200 litros de água. Sem falar que damos grande parte dos vegetais que produzimos aos animais. Um terço dos grãos do mundo viram comida de vaca. Num mundo vegetariano haveria lavouras mais diversificadas e teríamos muito mais recursos para combater a fome. E não se trata só de comida. A pecuária esgota o planeta de outras formas. " Para começar, ocupa um quarto da área terrestre e não para de se expandir ", diz o ativista vegetariano Jeremy Rifkin. A pressão para a derrubada das florestas, inclusive a amazônica, vem em grande parte da necessidade de pasto. Entre os danos ambientais causados pelo gado, está também o aquecimento global. Os gases da flatulência de bois e ovelhas - não, isso não é uma piada - estão entre os principais causadores do efeito estufa.
COMO VIVEM E MORREM OS ANIMAIS ?
BOI - No Brasil, os bois são criados soltos. Provavelmente, essa forma de criação é menos terrível que a de países frios do Cone Sul e da Europa, onde os invernos matam o pasto e fazem com que os animais fiquem fechados em áreas apertadas, comendo só ração. Isso não que dizer que seja o melhor do mundo. Os animais muitas vezes passam fome, vivem cheios de parasitas e apanham copiosamente. "O manejo no Brasil é muito bruto", diz o etólogo Mateus Paranhos da Costa, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal, especialista no assunto. Não existe aqui no Brasil a produção de vitela - carne muito branca e macia de bezerros mantidos em jaulas super apertadas para evitar que se movimentem. Para acentuar a brancura da carne, os criadores não permitem que o bezerro coma grama ou grão, só leite - a dieta tem que ser pobre em ferro e em outros nutrientes, forçando uma anemia no animal. Para matar um boi, primeiro se dá um disparo na testa com uma pistola de ar comprimido. O tiro deixa o animal desacordado por alguns minutos. Ele então é erguido por um argola na pata traseira e outro funcionário corta sua garganta. " O animal tem que ser sangrado vivo, para que o sangue seja bombeado para fora do corpo. Em 1997, a ativista de direitos dos animais americana Gail Eisnits escreveu o bombástico livro Slaughterhouse ("Matadouro", inédito no Brasil), no qual acusava os matadouros de sangrar muitos animais ainda conscientes. O abate a marretadas está proibido no país, o que não quer dizer que não aconteça - já que quase 50% dos abates são clandestinos e, portanto, sem fiscalização. O problemas da marretada é que não é fácil acertar o boi com o primeiro golpe. Muitas vezes, são necessários dezenas para matá-lo, e ninguém garante que o carrasco que irá matar o boi irá acertar essa dezenas de golpes na testa. Muitas vezes os golpes acertam os olhos, o focinho e acabam desfigurando todo o animal antes que ele morra. Com tanta crueldade assim não dá para entender como ainda tem gente que insiste em comer carne, sendo que temos diversas outras opções de alimentação, sem tortura, e sem crueldade.
GALINHAS - Essas quase sempre levam uma vida miserável. Vivem espremidas numa gaiola do tamanho delas. As luzes ficam acesas até 18 horas por dia - assim elas não dormem e comem mais (isso acontece principalmente com as que produzem ovos). Seus bicos são cortados para que não matem umas às outras e para evitar que elas escolham que parte da ração querem comer - caso contrário, ciscariam apenas os grãos de seu agrado e deixariam de lado alimentos que servem para que engordem rápido. A morte é rápida. As galinhas ficam presas numa esteira rolante que passa sob um eletrodo. O choque desacorda a ave e, em seguida, uma lâmina corta seu pescoço. Pintinhos machos são sacrificados numa espécie de liquidificador gigante. Parece horrível, mas é a mais indolor das mortes descritas aqui.
PORCOS - Outros azarados. Não têm espaço nem para deitar confortavelmente. "São confinados do nascimento ao abate", diz Pinheiro Filho. As gestantes são forçadas a parir atadas a uma fivela, apertadas na baia. O abate é parecido com o de bovinos, com a diferença que o atordoamento é feito com um choque elétrico na cabeça do animal. É jogado num tanque de água fervendo após o sangramento, para facilitar a retirada da pele. Gail Eisnitz afirma, em seu livro, que muitos porcos caem na água fervendo ainda vivos.
PATOS E GANSOS - Os mais infelizes são os gansos e patos da França. O foie gras, um patê tradicional e sofisticado, é feito com o fígado inflamado das aves. Os produtores colocam um funil na boca delas e as entopem de comida por meses, fazendo com que o fígado trabalhe dobrado. Isso provoca uma inflamação e faz com que o órgão fique imenso, cheio de gordura. Ou seja, o patê, na prática, é uma doença. Há movimentos pedindo o banimento do produto.
E O QUE FAZER A RESPEITO ?
Há uma verdade inescapável: ao comermos carne, somos indiretamente responsáveis pela morte de seres que têm pai, mãe, sofrem, sentem medo. Os vertebrados sentem dor! Podemos escolher ovos caipiras produzidos por galinhas criadas soltas, em companhia de galos, sob o sol, ou podemos optar por produtos de empresas que não fazem testes em animais. Tudo isso depende da nossa atitude e amor pelos animais. Faça sua parte! Se cada um fizer a sua teremos um mundo mais justo, livre de crueldade e saudável.
Fonte: Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal
"Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor."
Pythagoras

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